25 abril 2007

A espuma dos filmes



No Indielisboa, documentários, sobretudo, é o que tenho visto, na exiguidade do tempo e na impossibilidade de abarcar o universo esmagador do seu catálogo; pelo menos as sessões não estão completamente esgotadas, como nos anos passados, mas também os espectadores estão desarmados e sem conseguir esgotar o programa à la carte.

A sensação de imponderabilidade de tudo isto, a de um programa que ultrapassa a nossa capacidade de abrangência, a da proliferação de vozes que invalidam a ilusão da escolha, os banhos de água fria que a diversidade de filmes e linguagens oferece, a sucessão das imagens, a sequência alucinada de curta em curta, a ausência de pausas, as impressões confundidas, a técnica de filmagem e montagem cada vez mais sincopada, ou concentrada, ou negligenciada – tudo isto já não é cinema. É fusão, cadência de impressões, doses fortes de imagens. Onde não sobra tempo para digerir nem reflectir, nem ler, nem escrever. É a cultura visual do teledisco em formato de ecrã de cinema. Não há nada entre um filme e outro, nem ideias, nem vida, só uma espécie de consumo aleatório, cansativo; já nem há partilha nem diálogo sobre os filmes, não há quem lhes chegue.

Como eu gostava que, em vez de um Indie por ano, houvesse indies todo o ano, todas as semanas, mas parece que nem isso é compatível com a lógica dos eventos que governa a rentabilidade dos festivais. Embuchar, desembolsar, rebentar e voltar à normalidade, até para o ano, fingindo que não há filmes todos os dias e em toda a parte a serem feitos e a precisarem de ser vistos por espectadores frescos e capazes de deglutir e reflectir.

2 comentários:

Vasconcelos disse...

Que o pessimismo seja também gerador de filmes e o cansaço passe para a tela. Eu gosto do Indie: os bilhetes são mais baratos, há muitas sessões e muita gente. Gosto também porque sinto que participo em qualquer coisa importante, porque há sempre fotógrafos em todo o lado e há muita publicidade ao Festival. E como são muitos filmes, as perguntas mais ouvidas são, qual é que viste? qual é que vais ver? Não se fala mais dos filmes, porque o importante é sempre o filme que se vai ver a seguir. Sessão contínua, espectador compulsivo, distracção permanente. Sobrará tempo-espaço para a reflexão? Interessa fazer essa reflexão? E se interessa, para quê?

Anónimo disse...

Como eu concordo consigo, Leonor.
Parece-me desajustada e sem qualquer tipo de coerência este comentário aqui do miguel clara...
Reflexão para quê?!!!!
Realmente porque vou considerar o que vejo?
Como e pronto?
Nunca.
Cada vez faz mais sentido o texto que a Leonor transcreveu de um comentário de um espanhol: já não há ninguém a pensar atrás da câmara de filmar.
Será que há alguém a pensar atrás destes Festivais?
Ou é só mesmo porque aparecem muitos fotógrafos?