09 janeiro 2006

A pequena política



O que é a política? É a regulação das actividades humanas no interesse dos grupos sociais.

O que é o amiguismo? É uma forma de associação pela qual os indivíduos se sentem seguros e apoiados na sua rede de amigos.

O que é uma capelinha (também chamada lobby)? É quando um grupo de amigos resolve fazer política contra outro grupo, por razões de manutenção das suas redes de sustento, influência e poder.

A pequena política – à semelhança da grande – funciona por grupos de interesses, tendo como fundamento a necessidade de sobrevivência, isto é, o acesso ao trabalho, ao salário e à realização pessoal.

No campo da cultura, a formação de lobbies, mais do que fundada em razões económicas ou ideológicas, como noutras áreas políticas, autojustifica-se pelos factores do gosto e do prestígio. É a política do gosto.

O que é a subpolítica? É quando a pequena política se torna rasteira e incontrolável. Quando os dirigentes dos centros culturais e dos teatros sabem pelo jornais que foram demitidos, porque a fuga de informações é mais rápida que qualquer procedimento político. Isso também já aconteceu noutras áreas. Há uma entropia crescente na política que apanha todos desprevenidos. Parece uma coscuvilhice de aldeia. Ou como diria um antigo ministro, um fenómeno de endogamia.

Pode até chegar a ser caricato que – atrás de uma demissão antecipada e em defesa de grupos-de-amigos – se ergam vozes furiosas com recurso a argumentos estéticos e ao ataque pessoal. Misturando alhos com bugalhos, o lobby faz pressão para conseguir os seus intentos. Mas os critérios do gosto são um véu opaco que escurece a situação - onde o que está em jogo são questões de redes de influência. É melhor chamar as coisas pelo seu nome do que chamar nomes às pessoas.

A polémica que nasceu - da anunciada substituição de António Lagarto por Carlos Fragateiro no Teatro Nacional D. Maria II - é politicamente confusa. Em sintonia com uma interpelação parlamentar do PSD à ministra da cultura, levantam-se as vozes de esquerda contra o “populismo” do PS. Insultam-se os adversários com alegações de terem pertencido ao PCP e frequentado a RDA, em estranha relação genealógica com a FNAT de Salazar (Augusto M. Seabra); ou usam-se oxímoros de choque que juntam os extremos do elitismo e do pimbismo: «Quim Barreiros no São Carlos» (Jorge Silva Melo).

Se eu fizesse um documentário sobre a pequena política, estas observações seriam o seu ponto de partida. Parecem os valores todos baralhados. Ou, no fundo, é tudo a mesma coisa?

Ver ainda: Google-notícias ; pesquisa de blogues; petição contra a ministra.

(Foto de Nuno Ferreira Santos no Público de 09-01-06)

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