26 novembro 2005

Sabonete ou presidente?



Em 1997, Mariana Otero fez um documentário sobre a SIC - "Esta televisão é vossa" - que, depois de visto e bem aceite pelos seus protagonistas, foi mostrado em França e motivou um comentário no Le Monde em que se dizia que Monsieur Rangel era um "homem sem escrúpulos" pois tinha dito (no filme) que uma televisão podia vender o que quisesse, desde sabonetes a presidentes. Era indignação escusada, pois ele apenas o disse, não o fez. Rangel caiu em si e percebeu que o documentário podia ter leituras inesperadas.

Foi cancelada a ante-estreia no cinema Monumental e postergada a sua emissão televisiva. Até que, em resultado das vozes indignadas na imprensa, o filme passou de madrugada, para calar o escândalo, seguido de uma entrevista em que Baptista-Bastos tentava entalar indecentemente a coitada da realizadora, que não era ingénua, mas não tinha culpa da distorção desencadeada na imprensa francesa.

Finalmente, cumpriu-se a profecia de Rangel, e os media, que há uns dois anos andam a anunciar o sabonete Cavaco, passaram à campanha de promoção directa. Pseudo-sondagens, pseudo-não-campanha na primeira página do Expresso, pseudo-reportagens em capas de revista, vale tudo. E não haverá um militante desocupado ou um académico empenhado que se encarregue de desmontar esta e outras deformações da admirável democracia dos media?
(foto integral)

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